Quanta vida cabe em um ano?

Quanta vida cabe em um ano? Com cada vez mais reflexões sobre o tempo e a rapidez – ou não – com que ele passa, me peguei pensando sobre isso. Faz 9 meses que estou em Londres e teve um dia desses que me vi falando pra mim mesma “gente! Um bebê poderia ter sido gestado e nascido nesse tempo.”. É um pensamento meio aleatório como muitos que eu costumo ter, mas o fato é que ele desencadeou o motivo pelo qual sentei para escrever hoje: cabe muita vida em um ano.

Se você é um leitor assíduo da mais uma (haha) acho que já ficou claro que eu amo escrever sobre a vida, o tempo e algumas obviedades que às vezes precisam ser ditas em voz alta. Não sei se você gosta de futebol, mas, se sim, provavelmente ficou sabendo da morte do jogador Diogo Jota, do Liverpool, num acidente de carro junto com seu irmão mais novo, há duas semanas. Eu não o conhecia, obviamente, mas sabe quando um fato triste envolvendo alguém famoso te pega completamente desprevenido e te faz ficar genuinamente triste? Ele tinha 28 anos, 3 filhos pequenos e havia se casado duas semanas antes da fatalidade. Quanta vida coube dentro do ano dele?

Indo para o completo outro extremo, em abril fui ao casamento de dois amigos aqui da Inglaterra. Apesar de terem sido amigos por alguns anos, o namoro começou em dezembro de 2023, o noivado veio em abril de 2024 e eles se casaram em abril deste ano. Quanta vida coube dentro do ano deles?

Quanta vida coube dentro do meu (quase) um ano fora de casa? Quantos dias frios, noites com muito choro, aventuras na cozinha, caminhadas por parques maravilhosos, novos sotaques, visitas que me fizeram tão feliz, novas pessoas para querer conhecer mais e mais, novos países, o menino de cabelo loiro (que jura que na verdade é de outra cor) e que conheci no meu primeiro domingo por aqui que ocupa meus pensamentos sem pedir licença, quantas novas cidades no Reino Unido, quanta vida. Quanta vida cabe em um ano.

Um ano passa muito rápido e ao mesmo tempo, passa exatamente igual a todos os outros anos que já existiram na história. Veja bem, as nossas 24 horas nunca mudam, por mais que juremos que elas passam mais e mais rápido quanto mais velhos ficamos. Sabemos que é uma questão de percepção, do modo como enxergamos a vida, de prioridades, de outras coisas. O senhor tempo é preciso, cirúrgico, bastante exato. E como é que pode ser também tão abstrato, humano, diferente e pessoal? Bom, se descobrir, pode me contar.

Penso que cabe tanta vida assim em um ano exatamente porque a vida é essa dança bonita, trágica, descompassada, feliz, confusa, precisa... ela é um pouco como nós somos. Cabe muita vida em um ano porque cabe muito em um dia ordinário de rotina, trabalho, família e de fazer exatamente o que se fez ontem. Cabe muita vida em um ano porque também cabe muito numa viagem, em novidades, em boas notícias, em surpresas. Cabe muita vida em um ano porque a vida acontece todos os dias.

Termino de escrever refletindo sobre uma frase que minha melhor amiga sempre repete pra mim quando estamos contando dos nossos dias, preocupadas com o futuro e, muitas vezes, sem tanta esperança assim. “Ju, nós nunca sabemos quando vamos viver algo pela última vez”. E aqui, não leia num tom fatalista de “hoje pode ser seu último dia de vida”. Bom, pode ser que sim, mas ela sempre fala isso num sentido de que pode ser que hoje eu esteja procurando um emprego e reclamando que estou com muito tempo livre e amanhã eu consigo o tal emprego e não tenho mais um minuto sobrando no meu dia. Nós nunca sabemos quando as coisas vão mudar, elas simplesmente mudam. Sem pedir licença.

E é exatamente por isso que eu termino dizendo um básico que precisa ser dito (mas que talvez você precise ler hoje): cabe muita vida em um ano. Sai com aquelas amigas que você acha que sempre vão estar por perto e por isso acaba postergando, vai ver aquele filme no cinema, dá o primeiro oi pro menino bonitinho, corta a franja, passe muito tempo com seus pais, chora mesmo tomando sorvete, aceita a nova proposta, começa um hobbie por começar e não porque vai acrescentar algo no currículo, vive. Deixe caber muita vida no seu ano.

Recomendação da vez: hoje vou num show na Somerset House (que, diga-se de passagem, eu sempre quis conhecer), da Freya Ridings. Eu nunca tinha ouvido, mas gostei bastante e acho que pode ser um embalo gostoso ✨🪐 pra escutar antes de fazer qualquer uma das coisas que eu citei acima. Até a próxima – prometo tentar demorar menos pra voltar!